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Sociedade do cansaço

“O sujeito de desempenho está livre da instância externa de domínio que o obriga a trabalhar ou que poderia explorá-lo. É senhor e soberano de si mesmo. Assim, não está submisso a ninguém ou está submisso apenas a si mesmo. É nisso que ele se distingue do sujeito de obediência. A queda da instância dominadora não leva à liberdade. Ao contrário, faz com que liberdade e coação coincidam. Assim, o sujeito de desempenho se entrega à liberdade coercitiva ou à livre coerção de maximizar o desempenho. O excesso de trabalho e desempenho agudiza-se numa auto exploração. Essa é mais eficiente que uma exploração do outro, pois caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade. O explorador é ao mesmo tempo o explorado. Agressor e vítima não podem mais ser distinguidos. Essa autorreferencialidade gera uma liberdade paradoxal que, em virtude das estruturas coercitivas que lhe são inerentes, se transforma em violência. Os adoecimentos psíquicos da sociedade de desempenho são precisamente as manifestações patológicas dessa liberdade paradoxal.” (Byung-Chul Han)

“Por falta de repouso
nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em
nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram
tanto. Assim, pertence às correções necessárias a serem
tomadas quanto ao caráter da humanidade fortalecer em
grande medida o elemento contemplativo”.
(NIETZSCHE, F. Humano, demasiado humano).

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Cultura

Carnaval

Por Luiz Antonio Simas
@simas_luiz

Carnaval de rua

Tenso e intenso, como lâmina e flor, o Carnaval assusta porque nós coloca diante do assombro da vida.
Num mundo cada vez mais individualista, o Carnaval assusta porque afronta a decadência da vida em grupo, reaviva laços contrários à diluição comunitária, fortalece pertencimentos e sociabilidades e cria redes de proteção social nas frestas do desencanto.
A festa é coisa de desocupados? Fale isso para as trabalhadoras e trabalhadores da folia. O carnaval é também, para muita gente tratada como sobra vivente, alternativa de sobrevivência material, afetiva e espiritual.
Escolas de samba, por exemplo, constituíram-se como instituições comunitárias das populações afro-descendentes. Possuem ainda, mesmo com todos os dilemas, setores orgânicos que a partir delas elaboram sentidos de interação de mundo.
Por isso afirmei que o carnaval está sob ataque faz tempo: os higienistas da casa grande querem eliminá-lo, os tubarões do mercado querem gentrificá-lo, os mercadores da fé querem atrelá-lo ao imaginário do pecado. O Brasil não inventou o Carnaval, é certo.
Mas o povo do Brasil vivenciou de tal forma o Carnaval (na pluralidade de suas manifestações) que ocorreu o inverso: foi o Carnaval que inventou um país possível e original, às margens do projeto de horror que historicamente nos constituiu.
É perturbador para certo Brasil – individualista, excludente, sisudo, inimigo das diversidades, trancafiado – lidar com uma festa coletiva, inclusiva,alegre, diversa e rueira.
Tenso e intenso, como lâmina e flor, o Carnaval assusta porque nos coloca diante do assombro da vida.