Na perspectiva de Maria Lúcia de Arruda Aranha
1. As diversas abordagens do real
A autora começa sua análise baseando-se na diversidade das “maneiras pelas quais o homem entra em contato com o mundo”, destacando-se as “as abordagens mítica, religiosa, artística, científica, filosófica e do senso comum” que não apresentam-se de forma “excludentes, podendo coexistir em um mesmo indivíduo” (p.104).
Avançando em sua abordagem, Aranha afirma que “entre os povos tribais o mito é uma estrutura dominante (…) baseia-se na crença dos deuses e exige a execução de rituais que permeiam as atividades técnicas: os instrumentos são mágicos; a origem das atividades é divina; as manifestações artísticas, bem como as relações entre os homens (…) são acompanhadas de rituais baseados em crenças míticas (…) tudo é mito e tudo se faz por magia” (p.104).
Na perspectiva de Fernando Savater [1]
Filosofar não deveria ser sair de dúvidas, mas entrar nelas. É claro que muitos filósofos — e até dos maiores! — cometem às vezes formulações peremptórias que dão a impressão de já ter encontrado respostas definitivas às perguntas que nunca podem nem devem “fechar-se” por inteiro intelectualmente (…). Vamos agradecer-lhes suas contribuições, mas não seguir seus dogmatismos. Há quatro coisas que nenhum bom professor de educação deveria esconder de seus alunos:
Primeira, que não existe “a” filosofia, mas “as” filosofias e, sobretudo, o educar: “A filosofia não é um longo rio tranquilo, em que cada um pode pescar sua verdade. E um mar no qual mil ondas se defrontam, em que mil correntes se opõem, se encontram, às vezes se misturam, se separam, voltam a se encontrar, opõem-se de novo… cada um o navega como pode, e é isso que chamamos de filosofar”. Há uma perspectiva filosófica (em face da perspectiva científica ou da artística), mas felizmente ela é multifacetada;
Segunda, que o estudo da filosofia não é interessante porque a ela se dedicaram talentos extraordinários como Aristóteles ou Nietzsche, mas esses talentos nos interessam porque se ocuparam dessas questões de amplo alcance que são tão importantes para nossa própria vida humana, racional e civilizada. Ou seja, o empenho de filosofar é muito mais importante do que qualquer uma das pessoas que bem ou mal se dedicaram a ele;
Terceira, que até os melhores filósofos disseram absurdos notórios e cometeram erros graves. Quem mais se arrisca a pensar fora dos caminhos intelectualmente trilhados corre mais riscos de se equivocar, e digo isso como elogio e não como censura. Portanto, a tarefa do filósofo não pode ser apenas ajudar a compreender as teorias dos grandes filósofos, nem mesmo contextualizadas em sua devida época, mas sobretudo mostrar como a intelecção correta dessas ideias e raciocínios pode nos ajudar hoje a melhorar a compreensão da realidade em que vivemos. A filosofia não é um ramo da arqueologia e muito menos simples veneração de tudo o que vem assinado por um nome ilustre. Seu estudo deve nos render alguma coisa mais do que um título acadêmico ou um certo verniz de “cultura elevada”;
Quarta, que em determinadas questões extremamente gerais aprender a perguntar bem também é aprender a desconfiar das respostas demasiado taxativas. Filosofamos partindo do que sabemos para o que não sabemos, para o que parece que nuca poderemos saber totalmente; em muitas ocasiões pensamos contra o que sabemos, ou melhor, repensando e questionando o que acreditávamos já saber. Então nunca podemos tirar nada a limpo? Sim, quando pelo menos conseguimos orientar melhor o alcance de nossas dúvidas ou de nossas convicções. Quanto ao mais, quem não for capaz de viver na incerteza fará bem em nunca se pôr a pensar.
[1] Extraído de: ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. educação da educação. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006
Na perspectiva de Marilena Chauí
Qual a utilidade da Filosofia?
“Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil;
“se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil;
“se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil;
“se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil;
“se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil…
“então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes.”