Categorias
Cultura

Carnaval

Por Luiz Antonio Simas
@simas_luiz

Carnaval de rua

Tenso e intenso, como lâmina e flor, o Carnaval assusta porque nós coloca diante do assombro da vida.
Num mundo cada vez mais individualista, o Carnaval assusta porque afronta a decadência da vida em grupo, reaviva laços contrários à diluição comunitária, fortalece pertencimentos e sociabilidades e cria redes de proteção social nas frestas do desencanto.
A festa é coisa de desocupados? Fale isso para as trabalhadoras e trabalhadores da folia. O carnaval é também, para muita gente tratada como sobra vivente, alternativa de sobrevivência material, afetiva e espiritual.
Escolas de samba, por exemplo, constituíram-se como instituições comunitárias das populações afro-descendentes. Possuem ainda, mesmo com todos os dilemas, setores orgânicos que a partir delas elaboram sentidos de interação de mundo.
Por isso afirmei que o carnaval está sob ataque faz tempo: os higienistas da casa grande querem eliminá-lo, os tubarões do mercado querem gentrificá-lo, os mercadores da fé querem atrelá-lo ao imaginário do pecado. O Brasil não inventou o Carnaval, é certo.
Mas o povo do Brasil vivenciou de tal forma o Carnaval (na pluralidade de suas manifestações) que ocorreu o inverso: foi o Carnaval que inventou um país possível e original, às margens do projeto de horror que historicamente nos constituiu.
É perturbador para certo Brasil – individualista, excludente, sisudo, inimigo das diversidades, trancafiado – lidar com uma festa coletiva, inclusiva,alegre, diversa e rueira.
Tenso e intenso, como lâmina e flor, o Carnaval assusta porque nos coloca diante do assombro da vida.