Filosofia é uma máquina de guerra, uma máquina instalada dentro do campo social. Se ao final de uma aula não houver mudanças, precisamos admitir como Nietzsche: “Pelo menos resta uma tristeza em todos nós: somos incapazes de pensar”
Cláudio Ulpiano
Octavio Paz, em ‘O Labirinto da Solidão’, diz que quando (Cristóvão) Colombo chegou, (os indígenas) não viram as caravelas... Elas estavam ali fundeadas, mas não havia cognição para poder representar cerebralmente uma imagem que era absolutamente incompatível com o quadro mental de uma cultura que não tinha elementos para visualizar... Por isso que os gregos diziam que ‘teoria’ significa ‘aquele que vê’, o ‘teores’, é ‘aquele que vê’... A gente só vê o que tem cognição pra ver... Eu não tenho como discutir com a deputada porque a sua visão de mundo, a sua percepção como cosmovisão, só lhe permite enxergar o que a senhora já tem escrito na sua cognição... Então a senhora vai ver não é o que existe, mas é o que a senhora recorta da realidade... A realidade é recortada por um processo de cognitivo de historicização... Então, eu não posso discutir um tema que contrapõe visão de mundo, concepção de mundo, entendeu?”
José Geraldo de Sousa Júnior
Será preciso admitir que os homens não são homens fora do ambiente social,
visto que aquilo que consideramos ser próprio deles, como o riso ou o sorriso, jamais ilumina o
rosto das crianças isoladas.
Lucien Malson, in Les Enfants Sauvages
Há séculos temos sido alfabetizados pelo
silêncio. O poder se reservou o exercício da
palavra. Mais, o poder se reservou o
monopólio da palavra. De tal modo que, por
fim, o poder se fez palavra. E a palavra se
fez poder sobre o silêncio dos vencidos
Pedro Tierra, in Perseu: história, memória e política
Deus está morto. E fomos nós que o matamos. Como havemos de nos consolar, nós, assassinos entre os
assassinos? O que o mundo possuía de mais sagrado e mais poderoso até hoje sangrou sob nosso punhal - quem
nos lavará desse sangue? Que água nos poderá purificar? Que solenes expiações, que jogos sagrados teremos
que inventar? A grandeza deste ato não é demasiado grande para nós? Não teríamos que nos converter em
deuses para sermos dignos de semelhante feito?
Nietzsche, in A Gaia Ciência
Na ditadura, desaparecidos os corpos,
desapareciam os rastros da tortura: o reino
da barbárie, que a pratica e apaga os seus
registros para o presente e o futuro.
O paradoxo: o rastro, o silêncio – (ausência)
- sempre aponta para uma presença que nos
visita e se atualiza (presente).
Aarão Reis e Denise Rollemberg, in Desaparecidos
Passar do senso comum à consciência filosófica
significa passar de uma concepção fragmentada, incoerente, desarticulada, implícita, degradada, mecânica,
passsiva e simplista a uma concepção unitária, coerente, articulada, explícita, original, intencional,
ativa e cultivada.
Demerval Saviani, in Educação: do senso comum à consciência
filosófica
Se você tem uma maçã e eu tenho uma maçã, e nós trocamos as maçãs, então você e eu ainda teremos uma
maçã.Mas se você tem uma ideia e eu tenho uma ideia, e nós trocamos essas ideias, então cada um de nós
terá
duas ideias.
George Bernard Shaw
Qual é a utilidade da filosofia?
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; / se não se deixar guiar pela
submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; / se buscar compreender a
significação
do mundo, da cultura, da história for útil; / se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas
ciências e na política for útil; / se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem
conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil,
/
então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes.
Marilena Chauí, in Convite à Filosofia
Por falta de repouso
nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em
nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram
tanto. Assim, pertence às correções necessárias a serem
tomadas quanto ao caráter da humanidade fortalecer em
grande medida o elemento contemplativo.
Nietzsche, in Humano, demasiado humano
O sujeito de desempenho está livre da instância externa de domínio que o
obriga a trabalhar ou que
poderia explorá-lo. É senhor e soberano de si mesmo. Assim, não está submisso a ninguém ou está submisso
apenas a si mesmo. É nisso que ele se distingue do sujeito de obediência. A queda da instância dominadora
não leva à liberdade. Ao contrário, faz com que liberdade e coação coincidam. Assim, o sujeito de
desempenho se entrega à liberdade coercitiva ou à livre coerção de maximizar o desempenho. O excesso de
trabalho e desempenho agudiza-se numa auto exploração. Essa é mais eficiente que uma exploração do outro,
pois caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade. O explorador é ao mesmo tempo o explorado.
Agressor e vítima não podem mais ser distinguidos. Essa autorreferencialidade gera uma liberdade paradoxal
que, em virtude das estruturas coercitivas que lhe são inerentes, se transforma em violência. Os
adoecimentos psíquicos da sociedade de desempenho são precisamente as manifestações patológicas dessa
liberdade paradoxal.
Byung-Chul Han in A sociedade do cansaço
Companheira / Senti teus olhos na sombra
como diamantes mudos,/ teus olhos aprisionados
como passarinhos. / Guardei no peito teus olhos
de madrugada rebelde,/ rompendo a noite
dos corredores. / Tomei na sombra tuas mãos feridas
como terra semeada / e aprendi o ódio dos escravos
no instante que precede a revolta.
Pedro Tierra, in Poemas do Povo da Noite
O carnaval está sob ataque faz tempo: os higienistas da casa grande querem eliminá-lo, os tubarões do
mercado querem gentrificá-lo, os mercadores da fé querem atrelá-lo ao imaginário do pecado. O Brasil não
inventou o Carnaval, é certo.
Mas o povo do Brasil vivenciou de tal forma o Carnaval (na pluralidade de suas manifestações) que ocorreu
o inverso: foi o Carnaval que inventou um país possível e original, às margens do projeto de horror que
historicamente nos constituiu.
É perturbador para certo Brasil – individualista, excludente, sisudo, inimigo das diversidades,
trancafiado – lidar com uma festa coletiva, inclusiva,alegre, diversa e rueira.
Tenso e intenso, como lâmina e flor, o Carnaval assusta porque nos coloca diante do assombro da vida.
Luis Antônio Simas
O súdito ideal do governo totalitário não é o nazista convicto nem o comunista convicto, mas aquele
para quem já não existe a diferença entre o fato e a ficção (isto é, a realidade da experiência) e a
diferença entre o verdadeiro e o falso (isto é, os critérios do pensamento).
Hannah Arendt, in As origens do totalitarismo.
O bolsonarismo não é um sistema filosófico, é uma seita religiosa com um líder miliciano. /
Não busca justiça, age por vingança. /
Não tem proposta, faz protesto. /
Não confia na força da lei, mas na lei da força. /
Não tem adversários, mas inimigos. /
Valoriza mais a polícia que a política.
Frei Beto